"BIOGRAFIA" |
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Mário Matta Silva |
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Mário Henrique Matta e Silva, nascido em Algés, Oeiras em 12.03.1941. Professor (Licenciado em História) reformado da FP como Assessor, Jornalista e Poeta, Coordenador de Tertúlias Poética (Benfica, Amadora, Paço de Arcos) colaborador / cronista - Jornal dos Reformados, Jornal da Amadora, Revista Montepio Geral. Lecciona em Universidades para a Terceira Idade. Ligado a “Mural dos Escritores”; “APP”; “Varanda das Estrelícias”; “Confrades da Poesia” e a outros portais da Internet |
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Bibliografia: | |
"Nunca Vos Direi Tudo" - 2002, "...E Vou Nos Cânticos da Terra"- 2004, "com eles Noutra Atitude" - 2006, coautor de "Duas Gotas a Mesma Fonte" | |
Sites e Blogs: | |
http://muraldosescritores.ning.com/profile/MARIOMATTAESILVA - http://www.raizonline.org/mattaesilva.htm | |
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Para lá de nós
Não sei descrever filósofos
nem sei sondar os deuses
enquanto me agito
em pensamentos loucos
numa intensa e desmedida
vontade de viver a vida.
Avanço no tempo que se esvai
e meu sentimento
meio deslumbrado
é o de querer saber o que alcanço
por isso, vou, avanço
e não escondo cada lamento.
Não encontro o depois
pois me assustam os abismos
da existência humana
e toda a rebeldia insana
do meu ser se exalta
sem nada descodificar.
Cada passo que dou
me sustenta a mente
e ando de imaginação exigente
para lá de nós
sem que o descubra
ou oiça do além o som de alguma voz.
Mário Matta e Silva
REBELDIA
É como fazer uma viagem
no tempo incerto
agitado, e assim
voltar atrás , ir lá bem longe
nos anos de vida percorridos
revivendo a criança que fui
sem esconder rebeldias
numa folgazona miragem
de avanços destemidos.
Quantos anos passados
dos meninos traquinas
que conhecidos lá na rua
onde se desdobrava a lua
em tantas noites sonhadas
por montes, rios, ravinas
corridas por inteiro
nesse tempo de gesto verdadeiro
sobre a virgindade afectuosa
hora gentil e calorosa
da minha meninice.
Quem disse que estou a reviver
(tornar a viver… ou relembrar?)
não sei se bem se engana
que o gozo, a fama
da rapaziada
brotou de tudo o que era bom
desfez-se em nada
porque nem a doçura
ficou dessa criança
onde se renovou a esperança
de ser homem vivido
destemido
e gigante.
O que eu fora antes não esqueci
hoje me lembrei, senti
o que quedou algures já bem distante.
Mário Matta e Silva
GOSTAR DE TI
É bom
avançar sem tempo
sem medida nem lamento
e sentir na brisa um leve alento
que nos atraia
sem enfraquecer
nosso querer
até que a desilusão se esfume
e cresça em nós o lume
deste viver.
É bom
seguir teus passos
e é delicioso
o teu abraço
de uma amizade
desvendada ao longo do tempo
num remoinho caprichoso
que ronda o teu regaço
sem leviandade.
É bom
gostar de ti
como se gosta da vida
à flor da pele sentida
num olhar desvanecido
que nos mexe nos sentidos
e nos anima a alma
despontada por aí
imensa, fraterna, calma.
Mário Matta e Silva
HOMENAGEM SENTIDA (AO POETA ANTÓNIO MANUEL COUTO VIANA QUE HOJE NOS DEIXOU) Indefeso percorro meu caminho Na tristeza de te ver partir Num terminar de vida Atribulada e simples Feita de teus saberes poéticos Teus valores estéticos Teus galhofares de ironia sublimes. Sinto tua caminhada, amigo Numa grandeza morna E eloquente sabedoria Desfazendo cada sinuoso dia De tua vida imensa Tão plena quanto intensa Tão ávida de esperança, E vem-me à lembrança Nossos encontros de saber feitos Teus ensinamentos perfeitos E meu acatar do teu saber Desperto em horas infindáveis Nos versos tão moldáveis A essa tua mente criadora. E vou de livro em livro que escreveste Numa permanência de te haver Ali sentado, em palavras desfeito E um trinar de peito Que te enleva e suspende Em tudo que se entende De tuas nobres mensagens. Obrigado amigo Que no teu saber de hoje, valiosamente antigo Me estendeste a mão Num puro, franco e são Compreender de mim Tão forte assim Num jeito que ficou de nós. E vejo teus gestos Sinto tua voz E teu acto criador imenso Que inda agora não dispenso Porque te continuo a ter Aqui, sem pressas, a escrever, a escrever Nesse mar inesgotável de poemas ao qual também pertenço. Mário Matta e Silva HOJE MATEI MEU POEMANa força da minha razão Nasce a vigília de um tema Saído do coração Na ilusão de qualquer lema E feliz lá fui então Caindo no mesmo esquema Ponho a caneta na mão E vou escrevendo o poema Porém, com a mesma paixão Em pleno rio se rema Foi nesse sonho que então Hoje matei meu poema. Mário Matta e Silva |
A JANELA QUE NÃO RESPIRA ( viagem no surrealismo) Há uma janela que não respira Amorfa, sem vida Que olha da parede para mim. Não resguarda gente do frio Não se abre para o jardim Meio esgotado e selvagem. A magia daquela janela É não querer ser ela. Sim, uma janela mostra o interior Escancara-se para o exterior Geme nas ferragens E faz-se carcomida nas madeiras Mas tenta representar pessoas, sensações, luz. Aquela janela meus calafrios produz Para além de imaginações perversas Um verdadeiro estertor Uma agonia sem arquitectura nem brios Sem reposteiros ou cortinas de renda Onde o pó cresce em camadas E os gatos não se aproximam Mostrando seus olhos celestes E seus veludos de pelo. Aquela janela suscita-me o nada O vazio Um torpor frio De um sem abrigo E há ali praga, abismo, inimigo Que lhe põe mau olhado Que lhe tirou o bafo, as vozes, os movimentos. Não mostra mulher ou homem no seu interior Nem crianças, nem velhos Nem canário empoleirado Nem quadros pendurados Ou um pano correndo meigo pelos vidros A limpá-los da sujidade acumulada Mostrando o esqueleto que a trás emoldurada E perra talvez, quem sabe. Não mostra mulher de pijama ou nua Nem homem de tronco aberto ou camisola interior Ou idosa de carrapito fazendo crochet Nem o saltar na frigideira de uma omeleta Que seja, para acalentar o estômago enraivecido… E eu pergunto-me desiludido O que faz ali aquela janela De olhos tristes… corpo abandonado? Numa parede esquadrinhada Sabe-se lá quando e por quem Ela consome-se no tempo Empena-se nas intempéries Suportando ventos agrestes Na companhia de uma acácia, dois ciprestes E tendo ainda a admirá-la um banco de jardim Onde os cães mijam quando a lua vem no fim De cada tarde morna que a bafeja. Não há vida que se veja Casa adentro e a porta tem ferros a trancá-la Mostrando que a casa se cala Desde há muito Sem palpitações Como que num estado de coma Alheado a tudo e a todos Em melancolias tais Indiferente aos vendavais. Cada vez que ali paro admiro a sua postura A envelhecer de madura Madeiras rangendo de tristeza. A última vez, com os olhos e a alma Ganhei forças, perdi a calma Quando a vi E arranquei-a para que não se tornasse Mais um escombro, um esqueleto E em moldes de cântico de velório Tentei oferecer-lhe frescura Pintei-a, fiz uma moldura na sua moldura Pendurei-a no escritório. Mário Matta e Silva PARTO E PRANTO Quero recordar a meninice A juventude O tempo decorrido E alguma caturrice Que nos envaidece e nos ilude. Tumulto na idade desvanecido. E lembro a sofrida Inquietude De tudo querer agarrar e entender Chama apagada, idade perdida; Mão terna em franca plenitude Afagada mater não desvanecida. Os anos acumularam Outonos (feitos de sonhos sofridos ou risonhos) E caminhos sinuosos Enxugando lutos tenebrosos. No auge, teias de encontros carinhosos E foi desses encontros que a luz Em parto me expulsou E iluminou O caminho de pranto percorrido Feito de emoção Nessa paternal sábia união. Mário Matta e Silva Poesia à letra (f) Foste A fenda Já ferida De felicidade Fulminada. Fantástica Fibra de força Que me fendeu Febrilmente Com ferocidade. Foste Fielmente O fidelíssimo Furor felino Sem falsidade. Fisicamente És fenda, fuzil, força Na ferida feminina Da fantástica Fatalidade. (m) Manhã Molhada Madrasta E mal-encarada Na monstruosidade Doutras manhãs Malditas. Manhã Maravilha Musicada Com malmequeres Em movimentos De mil-cores Matizada. Manhã Maquinal De medos Em mendigos Mal-tratados Magricelas Moendo Miséria E mandioca. Manhã Morta De meiguices Mentirosas Maliciosa E maníaca Metida Em montes De merda. Mário Matta e Silva |
"CONFRADES DA POESIA" |
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www.osconfradesdapoesia.com |