"BIOGRAFIA" |
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"Maria Melo" |
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Maria
Melo – Nascida
a 13 de Agosto de 1950, na cidade Invicta do Porto. Estudou dos 11 aos 13 anos na
Alemanha, idade com que foi para Angola, donde regressou
definitivamente para a Europa 1984. Depois de passar por
vários Países europeus, numa tentativa de adaptação,
fixou-se em Portugal a partir de 1989. Tirou vários cursos
ligados às letras e um de contabilidade e gestão. Escreve
desde os seus 12 anos, mas quase tudo o que escreveu até aos
35 anos de idade, ficou em Luanda; juntamente com um sonho
de vida.
Está ligada aos Horizontes da Poesia; Confrades da Poesia
e a vários portais da Internet.
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Bibliografia: | |
9 Livros Temáticos; 40 Livros para a Infância; 70 Livros de poesia variada; 3 Livros em Prosa; 30 Livretos Contos; 10 Livretos Porto das Barcas; 24 Livretos Signos. Participação em mais de uma centena de antologias, algumas organizadas pela própria. Prefaciou vários livros de autor, principalmente de poesia. | |
Sites: | |
http://www.youtube.com/watch?v=ORmDKuLIX40 - http://horizontesdapoesia.ning.com/profile/MARIAMELO | |
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SAPATOS NOVOS Porquê, mãe? Não segui os teus conselhos Não ouvi os teus reparos Não entendi os teus olhos tristes quando fazia exactamente o contrário do que me dizias? Porquê mãe? Tornei tudo tão difícil Tirei tempo ao meu tempo Só por pensar que o teu tempo era outro tempo? Lembras-te, mãe? No dia em que recebi o meu primeiro subsídio de reinserção social e fomos comprar uns sapatos (tinham de ser clássicos porque eu ia à minha primeira entrevista de emprego). Vi aqueles sapatos pretos, afunilados, bicudos como era a última moda e tu avisaste: - Cuidado filha os teus pés estão habituados a andar à vontade dentro dos ténis, não vais aguentar toda a tarde com os pés apertados, seria melhor escolheres um modelo mais confortável. Ao que respondi: - Eu gosto é destes - e tu também devias de gostar, são o teu estilo – ficam-me bem, sou eu que pago, sou eu que escolho. Ainda te ouvi dizer: - tu é que sabes, o dinheiro é teu e os pés também. Logo à noite dir-me-ás se valeu a pena o sofrimento. Nunca mais me esqueci, voltei descalça para casa, de sapatos na mão, que não mais voltei a calçar, e, Sabes, mãe? Nem sequer fui à tal entrevista de emprego. Fui ter com a Mónica e mais uma vez gastei uma tarde inutilmente… curti, enterrei-me mais no vício… Usei mais uma tarde do meu tempo a ver o tempo passar, sem sentir, sem fazer, sem viver… Apenas a aumentar o medo dos pesadelos enquanto buscava sonhos. Porquê, mãe? Não parei quando me disseste para parar? Porque segui o caminho descendente até ao fosso fundo que me levou pelo lado errado? Porquê, mãe? Não segui a margem certa da vida como me ensinaste? Hoje dizes: - Seguiste o teu caminho, construíste a tua vida e mesmo por atalhos escuros conseguiste ver a luz, Graças a Deus, reconheces agora que os caminhos das trevas não levam a objectivos válidos. Mas, deixa-me dizer-te, mãe, foi difícil, aliás é difícil, olhar para trás e ver: Tantos anos desperdiçados, Tantas dores escusadas, Tantos dissabores, Só porque não segui a tempo os teus conselhos. É por isso, mãe, que gosto de deixar o meu filho contigo. Sei que lhe darás os mesmos conselhos, que, mesmo não os seguindo, um dia também lhe hão-de servir de muleta pois sei que se lembrará e Deus queira que ainda a tempo de não cometer os mesmos erros que eu cometi. Cometerá outros? Talvez… Mas, com a tua ajuda – agora sei, mãe – conseguirei guiá-lo pelo lado certo da vida. Esta certeza – eu sei – tu também tinhas quando eu nasci, e, pelo que parece: É inevitável o sofrimento É obrigatório seguir caminho próprio É forçoso contornar os próprios obstáculos, resolver os próprios problemas e um dia lembrar como tudo poderia ter sido muito diferente e tão mais fácil … Se eu tivesse seguido os teus conselhos, mãe… Lembraste, mãe? Daquela segunda feira em que, cedinho pela manhã, saias tu para o trabalho, convencida de que eu tinha passado o fim de semana a estudar em casa da Débora e ficaste admirada por me encontrares sentada ao fundo da escada com a Debi e a Marta a tentarem convencer-me a ir para casa descansar. Perguntaste o que se passava e as minhas amigas responderam que eu teria comido qualquer coisa que não caiu bem, já tinha vomitado e estava só a precisar de descansar. Puseste-me a mão na testa, - como me soube bem a tua mão fresquinha, até parece que fiquei melhor - não tinha febre e concluíste que não deveria ser nada de grave. Voltaste atrás, fizeste-me um chá e lá me deixaste, não sem uma pontinha de preocupação, com as minhas amigas, afinal já éramos umas mulherzinhas (16 anos). Sabes, mãe? Aquilo não foi indisposição de comida, foi de bebida e outras misturas. Eu sei lá!... Acho que foi nessa noite que a descida começou. Nunca mais voltei a sentir-me bem e tu nem desconfiaste. A ingénua devia ser eu, mas – agora sei – as mães, em relação aos filhos são terna e eternamente ingénuas, acreditam sempre no melhor. Não querem assumir que os seus filhos são os desencaminhadores da estória – andam é com más companhias. Compreende-se, os seus filhos foram sempre tratados com carinho, tiveram os melhores exemplos. Falo por mim. Os meus pais não fumam nem bebem. Porque será que eu gosto de fumar e até de beber? Haverá explicação para isto? Pois, não respondes. Como poderias saber? A psicóloga disse-te que eu tinha dificuldade em coordenar uma escala de valores e tu, apesar da tua reconhecida inteligência, não compreendeste. - Uma escala de valores?! Quais? Aqueles que ensinam no catecismo? Os dos 10 mandamentos? Os lá de casa? Esses, eu conheço e ainda lembro. Sempre te ouvi dizer que só é pecado o que prejudica terceiros. Quando o mal provocado afecta apenas o próprio, não passa de um erro desculpável. Agora sei, mãe, estavas enganada. Afinal também podemos pecar contra nós próprios e esses são pecados que dificilmente desculpamos São os pecados que nos castigam mais Porque não se esquecem As feridas que marcam a alma nunca cicatrizam Essas feridas abrem chagas de novos caminhos, novas dores e é assim que a vida ensina, dolorosamente tudo o que tu, mãe, tentaste ensinar com doçura. Maria Melo - Lisboa |
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PRIMEIROS PASSOS “Fecho o meu olhar ao pé da alma” E vejo o coração enternecido Preenchido com a imagem que me acalma Dum sonho já vivido Estendias os teus braços para os meus braços E eu acorria com a ternura de um aviso Periclitantes eram os teus passos De cai mas não cai com um sorriso Aproximava os meus braços na intenção De que ia segurar-te e deixava Que a tua mão tocasse a minha mão E assim, cada passo teu, eu segurava Foram primeiros passos que guiei E logo tu cresceste e eu fiquei A ver-te a cada passo sem mais medos Agora ao recordar aqueles passos Estendo para ti os meus abraços Mas tu, já tocas os meus dedos! Maria Melo - Lisboa | MODERNICES “Ó Deus dos caixotes programados” Das caixas com buracos, janelinhas Onde ficam os humanos acoitados A cuidar das suas tão pobres vidinhas. Empilhados, simétricos, limitantes São um símbolo de progresso global Quem me dera uma casa como dantes Terra a terra, forno a lenha e quintal Ó Deus dos grandes carros tão velozes Que alimentam as estradas com rodados Quem me dera que o motivo das artroses Não fosse por ficarmos tão sentados Ó Deus das modernas multimédias A mostrar o que no mundo vai surgindo Quem me dera ignorar tantas misérias E viver, sem modernices, mas sorrindo. Maria Melo com 1º verso de ULISSES DUARTE |
"CONFRADES DA POESIA" |
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