"BIOGRAFIA"

"Maria Ivone Vairinho"

 «No Pódio dos Talentos»

27/2/36 a 7/9/2012

 
 
Maria Ivone de Jesus Pinto Manteigueiro Vairinho nasceu na cidade da Covilhã. Foi aluna da Escola Industrial e Comercial Campos Melo, tendo sido a melhor finalista do seu curso e  a melhor aluna da Escola. Completou os cursos de "Formação Geral do Comércio" e "Complementar do Comércio".
Cursos do Instituto Britânico e da Alliance Française
É diplomada pela Escola Pittea em estenografia portuguesa, francesa e inglesa.
Ainda espera concluir o curso de Literatura Portuguesa,  que interrompeu por doença grave.
Durante 39 anos, foi funcionária da Sacor , depois Petrogal (hoje Galp Energia) devido à fusão de quatro empresas - Sacor, Sonap, Cidla e Petrosul. Tem muito orgulho na sua carreira profissional, pois foi sempre promovida através de concursos internos e externos, terminando a sua carreira profissional como  Secretária do Conselho de Administração.
 
LITERÁRIO
Desde muito nova (15 anos) começou a escrever contos, peças de teatro, autos de Natal e poemas, que foram publicados em diversos jornais e revistas, tendo ganho quatro primeiros prémios em contos (Kemba, a Gazela; Folhas Soltas do meu Diário, Conto de Natal e Carta de Amor para  Minha Mãe) e uma menção honrosa em Poesia Lírica no I Concurso Literário da SACOR..
Traduziu muitos livros de Espanhol, Francês e Inglês (entre eles a série Dallas da Televisão e Robinson Crusoe).
Obras publicadas:
ROMANCES
Linhas Trocadas, Amor Cigano (1ª e 2ª Edição), Humilhação de Amor, Uma Mulher Moderna (esgotados)
POESIA
Livro da Dor e da Esperança ( VEGA  - Outubro de 1999 - com prefácio de António Alçada Baptista).
Foi colaboradora da "Crónica Feminina", nos seus anos de ouro, desde 1957 a 1982.
Também foi colaboradora do jornal "Poetas & Trovadores" e participou em 8 Antologias da ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE POETAS. Tem muitos poemas publicados no Notícias da Covilhã, Cyberletter, revista da APAE-Campos Melo e Boletim da Associação Portuguesa de Poetas
A sua Bio-Bibliografia foi incluída no livro de José Mendes dos Santos "Escritores do Concelho da Covilhã" (página 196 - edição de 1997)
Na Revista Cultural Florinda, edição da Câmara Municipal da Covilhã, no número dedicado aos Poetas do Concelho, foram publicados quatro poemas de sua autoria.
O seu curriculum, mais alargado, foi incluído na rubrica "Artistas da nossa Terra", de Manuel Vaz Correia, que ao longo de dois anos foi publicada semanalmente no jornal "Notícias da Covilhã" e deu depois origem ao livro com o mesmo título, edição da Câmara Municipal da Covilhã, em 1998.
 
ARTÍSTICO
O seu contacto com o palco deu-se no teatrinho do Salão Paroquial da freguesia de S. Pedro, na Covilhã, onde disse poesia, cantou e representou peças de sua autoria. Com guião e direcção do Padre José dos Santos Carreto,  foi a protagonista do filme "Dois Caminhos" , que relatava a luta de uma jovem operária, militante da JOC, na defesa da dignidade da mulher no mundo do trabalho. Pertenceu ao Grupo Cénico do Orfeão da Covilhã. Sob a direcção de Carlos Correia, Dra. Maria da Ascensão  Albuquerque Duarte Simões e Luís Ferrer representou  vários autos de Gil Vicente, Almeida  Garrett,  Júlio Dantas,  José Régio e Luís Stau Monteiro.
No intervalo entre a 1ª e 2ª partes da actuação do Orfeão, dizia poemas. Foi "Maria" no "Natal Beirão", da autoria do maestro Padre Mateus das Neves, e   "Covilhã" na apresentação do folclore beirão nos  espectáculos do Orfeão, que acompanhou nas suas deslocações a Santarém, Tomar, Abrantes, Guarda , Tábua...
Colaborou em concertos da "Pró-Arte", dizendo poemas ilustrativos de diversos andamentos de Sinfonias de Beethoven. Dos muitos recitais de poesia que deu no concelho da Covilhã, destaca o seu  poema "Lua Branca em Céu de Agosto", dedicado à Covilhã, dito no Dia da Cidade no Salão Nobre dos Paços do Concelho e os poemas do Padre Moreira das Neves e Maria Alberta Menéres ditos na Sessão Solene das Comemorações Marianas, que se realizou na Covilhã e foi presidida pelo Cardeal D. Fernando  Cento, Núncio Apostólico em Portugal.
Com o pseudónimo de Ivone Beirão, em 1958  pertenceu ao Centro de Preparação de Artistas da Rádio. Sob a orientação do Prof. Motta Pereira, gravou programas nos estúdios da Emissora Nacional, na Rua do Quelhas, e estreou-se num Serão para Trabalhadores no Pavilhão dos Desportos no Parque Eduardo VII . Nessa altura, teve também lições de arte de dizer com Manuel Lereno. Pertenceu ao Grupo Cénico da Casa do Pessoal da SACOR e sob a direcção de Carlos Pinho colaborou em diversos Saraus de Poesia. Sob a direcção de Ruy Furtado, representou "A Muralha", de Calvo Sotelo,  "Súplica da Cananeia", "Auto da Alma", "Auto de Mofina Mendes" e "Pranto de Maria Parda", de Gil Vicente. Representou nos Teatros da Trindade e Luísa Toddi e nas instalações da Sacor em Cabo Ruivo, Porto e Faro.
Maria Ivone Vairinho foi Presidente da Direcção da APP, desde Março de 2002 a 14 de Maio de 2011. Não se recandidatou a novo mandato e, em 14 .05.2011, em AG dos associados da APP, foi-lhe conferida a categoria de Sócia Honorária. Directora do Boletim da Associação Portuguesa de Poetas, é da sua inteira responsabilidade a Concepção Gráfica e Composição Informática . Responsável pelo Grupo de Jograis da APP  - seleccionando e ensaiando os poemas.
Há quatro anos, na Academia Cultural para a Terceira Idade  de Oeiras, dá aulas de "Ler...e Dizer - Oito Séculos de Literatura Portuguesa/Poesia". É sócia da Associação Portuguesa de Escritores, da Sociedade Portuguesa de Autores, da Associação Fernando Pessoa  e  da APAE - Campos Melo (Covilhã). Actualmente é membro de "
Os Confrades da Poesia".
 
 
Sites e Blogs:
http://ospoetasdaapp.blogs.sapo.pt/
http://appoetas.blogs.sapo.pt/
http://mariaivonevairinho.blogs.sapo.pt/
 
ABRAÇA-ME APENAS
(Para meu Marido
2 de Outubro de 1961/2 de Outubro de  2006)

Abraça-me apenas
Com toda a ternura
Que teus braços sejam
Cadeia segura.
 
Deixa que assim
Deste meu jeito
A minha cabeça
Repouse no teu peito.
 
Aqui estou protegida
Deixemos lá fora a vida
Com seus ódios e rancor.
Tudo é paz, serenidade
Águas mansas, tranquilidade
Abraça-me apenas, meu amor.
 
 
 
 
 
 
 
MÃE-TERRA

Anoitecia
Quando cheguei.
Cansada, triste, sozinha
Entrei na casa sombria.

O silêncio era palpável
De um peso insustentável.
A tua cadeira vazia
Pareceu-me pesada, fria.

Faltava-lhe a moldura
Do teu sorriso
Das tuas mãos
Deformadas e velhinhas
Onde morava o refúgio
Para a minha solidão.

A casa não era a mesma
Tinhas levado contigo
A alma e o coração.

O silêncio fez-se maior.
No corpo senti o gelo
Das paredes de granito
Tapei a boca
A sufocar um grito.

Todas as luzes abri
O aquecimento liguei
Mas nada me aquecia
Havia hostilidade
Na sala de ti vazia.

A brancura das paredes
Tinha uma luz crua
Que quase me agredia.

Na parede do quarto
Donde fugira toda a luz
O Cristo amargurado
De espinhos coroado
Pareceu passar para mim
O peso da sua cruz.

Meti-me na cama,gelada,
Confusa, amargurada
Triste, mais triste
Que a noite mais escura.

E o relógio compassado
Ia descontando as horas
Dum sono sobressaltado.

De madrugada,
O sol veio brincar
Nas persianas descidas
Pondo centelhas doiradas
Na cal viva das paredes.
Em ouro, foi desenhando,
Na colcha da minha cama,
Rendas de bilros delicadas.

Um pássaro cantou
No beiral do meu telhado
No quintal o galo lançou
Um cró-cró desafinado.
 
Abri de par em par
A janela do meu quarto
E por ela vi entrar
O azul intenso do céu
(Lembrando os olhos teus)
O ar puro da Serra
A luz doirada do sol
Das tílias o perfume
O cheiro forte da terra.
 
O Zêzere, lá ao fundo
Era fita prateada
As montanhas sentinelas
No horizonte perfiladas.

A casa encheu-se de luz
O Cristo de espinhos coroado
Com ar doce e resignado
Retomou a sua cruz.

À distância de um abraço
Tinha uma doce velhinha
Com olhos da cor do céu.
Acordara de madrugada
Sentira a minha chegada
Esperava um beijo meu.

Oh minha Mãe!
Oh minha Terra|
Conjugação do verbo amar
Fonte da água viva
Que dá forças para lutar.

Também eu sou de granito
Desafiando o infinito
Mas em ti, junto de ti
Reconciliada com a vida
Já não me sinto perdida.

Minha Mãe-Terra
Meu útero, meu lar
Abre-me os braços
Dá-me o teu regaço
Quero descansar.
 
 
ROSA, CARDO, ROSMANINHO
(MINHA FILHA)
 
Um homem, uma mulher
Pelo céu foram ungidos
No momento do querer
Almas e corpos unidos.
 
A semente germinou
Violeta, malmequer
Flor que abriu, desabrochou
Com perfume de mulher.
 
Água pura da nascente
Chuva forte e também mansa
Mar de fogo em sol poente
Arco-íris da esperança.
 
Brasa quente da lareira
Brisa que refresca o rosto
Sol que vem bailar na eira
Lua branca em céu de Agosto.

Rouxinol em melodia
Trinando no meu telhado
Pomba, águia, cotovia,
Gaivota no voo planado.
 
Raízes fundas no chão
É formiga a labutar
Cigarra numa canção
Se tem asas para voar.
 
Rosa, cardo, rosmaninho
Tão singela no seu jeito
Poema de amor e carinho
De todos o mais perfeito.
 

 
HORTO DAS OLIVEIRAS
 
-Como foi Job eu não sou
Nem tenho a fé de Abraão
Náufrago que em mar vogou
Sem tábua de salvação.

Não grito não esbravejo
Nem costumo me queixar
Mas tenho dentro do peito
Lágrimas mil por chorar.

Pela angústia dominada
Neste futuro adiado
Há medo que me tortura

E não desejo mais nada:
Que de mim seja afastado
O cálice da amargura.
 
 
SERRA DA ESTRELA

Meu corpo foi talhado em granito
Meus pés plantados em ribeiros
Que me banham o corpo inteiro.

Nos olhos tenho espaço infinito
Que rasga a linha do horizonte
Que se perde no mar, nos montes.

No meu véu branco de esponsais
Brotam zimbro, mimosas, tojais.

No verde selvagem dos pinheirais
Meu manto de rainha foi tecido
Com urzes e rosmaninho entretecido.

Meu vestido verde bordado
Com rubra barra de papoilas
Espigas doiradas
De trigo e cevada
Desce pelas encostas escarpadas.
 
No ventre fecundo
Guardo mananciais
De lava ardente e minerais
Que mostram seu esplendor
Nos picos das Penhas Douradas
Quando o sol enamorado
Em manhãs de ouro matizadas
Crepúsculos avermelhados
Me confessa o seu amor.

Prendem-se minhas mãos nas fráguas
Delas jorram cristalinas águas.

Águas de lava arrefecida
Fontes de saúde e vida
Irrompendo em borbotões
Tecendo rendas delicadas
P'las quebradas dos Covões.

Derretem neves do Inverno
E loucas vão mergulhar
No Poço que é do Inferno.

A água das neves, gelada
É de novo transformada
Pela lava incandescente
Rasga a terra com fragor
Entre nuvens de vapor
Nas termas e nas nascentes.
 
Sou feita de neve e de granito
Nos olhos tenho espaço infinito
Do verde selvagem dos pinheirais
No ventre fecundo mananciais
De lava ardente e geladas águas
Que jorram cantando pelas fráguas.
 
POETA

Ser poeta
É bênção
É maldição.

Num desassossego
De inquietação
Na carne sofrer
Dos outros a dor
A alma desnudar
Sem falso pudor.

Num só verso
Condensar o Universo.

Em cada madrugada
De corpo despido
Abertas as veias
Deixar jorrar
A dor sublimada.

Para ser feliz
Precisar de nada.
 
 

"CONFRADES DA POESIA"

www.osconfradesdapoesia.com