Amália
Faustino Mendes,
nascida a 22 de Julho de 1957, em S. Miguel Arcanjo,
Pilão-Cão onde frequentou a escola primária e aprendeu a ler
e escrever. Frequentando ainda um curso de Professora
realizado na Escola de Habilitação de Professores de Posto,
durante 1971 a 1975, a partir desse ano leccionou nas
escolas básicas e coordenou professores do ensino básico e
foi estudando para completar o ensino secundário; de 1992 a
1995 com o 12º ano de escolaridade, frequentou o curso de
bacharelato para professores de ensino secundário, na área
de Estudos Cabo-Verdianos e Portugueses, no Instituto
Superior de Educação de Cabo Verde, estando na altura a
leccionar no nível de ensino secundário. Continuei os
estudos universitários no mesmo instituto, para completar a
licenciatura; Em 1997 concorreu à carreira de Inspectores de
Educação, tendo sido aprovada em 1º lugar, exerceu esse
cargo, e frequentou um outro curso de licenciatura em
Educação - Recursos Humanos e Gestão da Formação, na
Universidade do Minho, em Portugal, de 1999 a 2001, e
concluiu com a nota de 16 valores, com essa formação,
leccionou no Instituto Superior de Educação em 2003. Em 2004
foi nomeada Inspectora Geral da Educação de Cabo Verde e
exerceu esse cargo até o fim de 2007. De 2007 a 2009
frequentou e concluiu, com 18 valores, um curso de mestrado
em Língua e Cultura Portuguesa, na Universidade Clássica de
Lisboa; actualmente, é Inspectora Superior de Educação em
exercício nas instituições educativas de todo Cabo Verde. Os
seus interesses: nascer e crescer na escrita criativa:
poesia e prosa. Com ligação aos Poetas Del Mundo; “Confrades da Poesia” – Amora / Portugal.
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Apenas sou mulher
Saio de casa com o pé direito,
Com
a mão esquerda puxo o fecho da porta
Com
a direita um safanão, as calças endireito
Para que a directa costura não fique torta.
Entretanto, a Tiranesa aparece
Com
a língua que a ninguém oferece
No
entanto, com ela sempre bate
Ao
transportar informações sem iate!
De
olhos quadrados de um castanho escuro,
Contrastantes com uma tês clara rectangular,
Dois buracos revestidos de cápsula triangular,
Sob
eles, uns lábios de ultrapassado esturro.
Observa-me nas duas bolas que alternam a subir e descer,
Que
se mexem e rodopiam em competição sadia,
Tropeçando na linha da costura a se desfazer
Não
se contendo em si, com o 'a' aberto, dizia:
Ah
que lindas garupas estou eu a ver!!!
Que
coisas faz com elas que assim estão,
De
tão regulares que iguais não hei-de ter,
Deixe que se macias saiba com a mão!
Credo Jesus batareto, longe de mim,
Mão
desgraçada, olhos de finado ruim,
Boca fendida a catanada de Godim
Que
nem consegue assegurar pudim!
Esta é que é a minha comida de certeza!
Tem
que vir um dia comer na minha mão,
Nem
que para isso tenho de semear a esperteza
Para fazer a colheita de salsichão!
De
certeza negativa e esperteza inexistente
Siga o caminho de homem na pele de mulher
Que
eu, de mulher, tudo de mim é patente
Por
qualquer mulher tenho só a amizade a querer.
Amália Faustino
Uma
evidência
Soltam mais faíscas por motivos sofredores banais,
Do
que ao queimar os dedos das mãos, estourando o cérebro,
Contorcendo os músculos estirados ao bazar pedais
Dispostos em jeito de telhados em redobro.
Se
a cada dia que passa, mais pesa a desconsideração
É
porque pérfidas mãos escrevem com dedos diabólicos,
Longos textos despropositados para a esterilização
De
decisões que vêm desferindo traumas melancólicos.
No
entanto, a deliberação que tarda a concluir
Aliada a frases irreflectidas que se proferem,
Como aquelas que de bruxarias têm estado a vir
Que
promovem desregradas atitudes que a todos ferem.
O
meu destino, que já é agitado e sombrio,
Envolve-me numa melancolia colérica.
Neste estilo de vida a que eu não resigno,
É
porque dela desenvencilho em luta enérgica.
Amália Faustino |
Palavras soltas em partidos
Antes de tudo permitam-me escrever palavras soltas
E
pedir-vos que com elas construam o sentido,
Percebendo que estando fora de lista e sem pistas
Não
se encontram amarradas a qualquer partido.
Partido no sentido das palavras, conhecimento multifacetado,
Labirinto semântico percorrido, recolha feita no horizonte,
Ambiente de convivência fundamental bisbilhotado,
Sem
perda de controlo, segue a construção da ponte.
E a
ponte do partido e do sentido, construídos
Palavras imbuídas em ondas de fortes decibéis,
Bocas movem os olhos fechados e ouvidos destruídos
Sem
luz, nem sons, e onde estão as verdades credíveis?
As
verdades, estas não existem em qualquer lado,
A
luz da lua, estrela em planeta, com apagões
Mentira vestida de luz, verdade em atrelado
Procura atropelar nas passadeiras os incautos peões.
Os
incautos peões atravessam falsas passadeiras
Ou
fora delas colocam os pés na armadilha,
Verdades e mentiras, paralelamente em cadeiras,
Esperam calçar botas com uma boa palmilha.
Verdades e mentiras de identificação difícil
Essência é a diferença que a forma esconde
Na
tomada de partido, cada calda em seu barril
Cada brasa, sua cavala e o sujeito põe-se a monte.
Amália Faustino
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